O absinto é meu astro fulgente vibrando
como um deus enquanto eu deliro sob o pomar
três virgens mortas pela impureza do entardecer
desfilam nuas sobre a ponte &
o mar embaixo arrebenta turbilhonante
ébrio, eu abraço o gavião ensolarado
para atravessarmos o Horizonte sem esperança
já estás vazia, mulher-sacórfago,
& preciso de ti para quebrar minha goela
é lamentável que nossos dias não sejam
todos ungidos com a embriaguez mais pungente
não seremos menos infelizes devorando alfaces
& cenouras para a alegria da intangível Beleza
sorve teu alcatrão para aquecer o ventre,
pois é deste que nascem os luminares perdedores da Humanidade
eu sei, estou incomodando com minha contundência,
mas todo bêbado tem o eterno direito à Sinceridade
Sincerida, ó perfeitos da terra, que não conheceis.
(Nobilíssima Faculdade de Direito da USP, junho 2012)
2
Largo São Francisco, eu me embriago no teu pátio
& a Pomba me abandona
o absinto acalma minha gastrite espiritual
com o aroma verde do cosmos
eu seria uma águia pousando na vertigem dos amores perdidos
quanta perfídia nos pobres que sujam as praças!
Lúcifer, Lúcifer, Lúcifer, por que temos de ser caridosos,
se podemos simplesmente voar incendiando a cidade?
górgonas e centauros depredam
estes corredores infestados de cidadania
fora daqui, bons moços!
Eu preciso de poetas!
(Nobilíssima Faculdade de Direito da USP, junho 2012)
3
Eu recomponho a plenitude da Imaginação
cavalgando tua voz, Kermann’s
Quero saudar a libertação do
Universo que palpita perpetuamente
em
tua alma
Quando escuto teu grito
vibrante na alegria contínua
com
a força da Terra,
eu canto meus poemas
dançando com a Morte,
essa brisa doente de
saudade
Eu compartilho contigo minha
exaustão diária no subúrbio,
abandonando a Finitude do
operário
& me descabelando no
Infinito
Bailarinas perdem o sono na
espuma de nossa luxúria
Violamos mulheres aventureiras
perdidas nas esquinas
da
Praça João Mendes
Por que obedecer aos
burgueses?
Por que alimentar
desabrigados?
Nossa fúria não comunga com
padres doutrinados na salvação
Nossa loucura nos chuta para a
violência da Vida
pelo simples prazer de
sermos
violentos como ela
Desobedecemos completamente
aos patrões, aos clientes,
aos revolucionários de
botequim
& a todos os eunucos
dos partidos
Nossa sombra ri no ritmo
melancólico de um violoncelo
vivendo seu êxtase onde Nietzsche
se debruçou para morrer
Criminosos & acadêmicos
percorrem a noite brincando
no teatro
do exorcismo, mas não trafegamos,
meu
adolescente azul, pelos caminhos deles
De mãos dadas contigo o
entardecer
Sendo um Espírito Livre não
posso viver sem vomitar diariamente
em órfãos que
dormem invocando a Redenção
Toda Estrela da Manhã é meu
pecado favorito
Inútil, arqueado sobre mim
mesmo, embalo teu corpo quente
encarnando,
pela boca, todas as tuas dissonâncias
Minha consciência desperta
numa sepultura
disseminada pelo céu, onde querubins
desobedientes
flagelam maconheiros &
fumam nicotina
Kermann’s, meu amor,
somos
mais puritanos que um convento,
vamos
sufocar burocratas na Faculdade
de Direito
& fugir para a intimidade
do
Infinito!
Quero te beijar violentamente
& quero me beijes, ó delírio violeta
Todas as náuseas serão
carícias tuas
Não há dor
quando sou tua lâmina de matar o Tédio